Criativamente falando, guardo no bolso, nas gavetas, nos armários e nos papéis do esquecimento centenas de ideias.
Dentro deste fluxo intenso, aparecem as ideias rasuradas: aquelas que sempre estão voltando e eu nunca as considero prontas.
Chamo de rasuradas porque elas estão sempre em revisão, com algum rabisco novo para a ser feito.
Escrevo sobre isso porque quero chamar atenção para a minha autocrítica.
quando a autocrítica se torna tribunal das ideias boas
Muitas vezes a autoavaliação é parte importante na decisão de botar na rua.
Uma das balizas que usamos para definir o perfeito é o nosso senso de belo.
Cada um tem uma ideia de perfeito, mas somos influenciados o tempo todo por versões do perfeito - mesmo vivendo uma vida imperfeita.
O senso de belo rasura a ideia.
Olha para a ideia do alto da sua moral para dizer:
— “Faltou isso! Faltou aquilo!”
Raramente o senso de belo te diz:
— “Continua criando que tá divertido.”
Ele, normalmente, vem e fala:
— “Vamos ver o que esse pessoal vai achar disso aí que você está fazendo.”
Um dia eu mandei o belo calar a boca.
Não o cantor, mas o meu senso de belo.
Ele estava me privando de ver as ideias sem as rasuras.
Funcionou, por um dia.
Não dá pra viver com a autocrítica desligada.
A autocrítica é experiente, inteligente e vai te passar a perna - assim que você virar a esquina.
A minha sugestão não é sair mandando alguém calar a boca na sua cabeça. Porque não funciona no longo-prazo.
A minha sugestão é você ter uma conversa sincera com a tua ideia.
Entende se o lugar é na gaveta ou no mundo. E se for pra ficar na gaveta, não é toda ideia que é útil sozinha, e tá tudo bem.
Algumas ideias que foram rasuradas, talvez, persistam teimosas em te mostrar que elas valem a pena.
Você vai senti-las, são aquelas inflamáveis, as que você quer muito fazer.
Se a autocrítica pesar e não deixar você criar e botar na rua, pede para ela para ir com calma.
Diz que coisas bonitas não são feitas em um dia.
Tem uma longa jornada de experimentos, pequenos movimentos, amostras, exibições, rodas de conversa, tempo olhando para o teto, café esfriando na mesa e medo do novo.
Esse processo é lindo.
É a construção de algo maior, que ninguém sabe nomear.
E não precisa.
O que eu preciso é viver cada criação e aprender a dialogar com elas e ver como o mundo dialoga com elas.
Mesmo quando parece uma ideia rasurada.
Com carinho,
Amei demais a reflexão, tenho ideias por aqui completando quase três anos, de vez em quando visito coloco data pra realizar e depois deixo passar.
É um pouco de cada ideia rasurada que a gente pode criar uma ideia transformadora. Imagina várias pessoas criando juntas, cada um com sua 💡. Se acontecesse mais disso teríamos mais coisas boas de boas ideias.