Na economia da atenção, boa parte do trabalho do marketing nasce da arte de (identificar, escutar e) contar histórias que se espalham.
Hollywood sempre soube disso muito bem: Marilyn Monroe sorrindo impecavelmente, James Dean transmitindo rebeldia calculada, Judy Garland fascinando com sua voz.
Tudo projetado para ser irresistível, tudo cuidadosamente pensado para ser o espelho do perfeito dentro da cena e na vida real.
Essa perfeição tinha um custo silencioso, humano e profundo. Judy Garland é um exemplo forte disso.
Por trás das cortinas, ela vivia sob pressão constante—remédios para dormir, para acordar, para emagrecer. Sua vida, controlada por grandes estúdios, era um ciclo contínuo de ansiedade e tristeza. Ela não podia simplesmente ser Judy: tinha que se encaixar ou então, invisível.
A semelhança com a atualidade não é mera coincidência.
Estamos passando por uma era de sustos.
Todo dia uma profissão é substituída.
Toda notícia simples se torna histórica.
A cada segundo, uma nova urgência.
A cada minuto, anúncios reforçando essa imagem de excelência e perfeição.
Perfeito pra quem?
Comparado com as máquinas nós somos humilhados superados em diversas competências.
Era pra eficiência nos ajudar ou assustar?
No livro O Belo e o Grotesco, Vitor Hugo faz uma crítica da limitação do belo, do perfeito, quando comparado com o feio.
“O belo tem somente um tipo; o feio tem mil”
Ele via no grotesco — esse lado imperfeito, frágil e excessivamente humano — o ingrediente que completa o sublime. Porque a arte não é feita só de idealizações.
A beleza sem contraste se torna estéreo.
Talvez o futuro do marketing não esteja em parecer impecável, mas em tocar o outro com algo que ele reconheça como real - talvez essa seja a essência do marketing.
Assuma a dúvida, o excesso, a confusão, o ponto fraco, o dito feio.
Use isso.
Não é a perfeição que faz as coisas acontecerem.
É o conflito entre o que queremos e o que resistimos.
É o limite que vira impulso.
A grandeza mora no entre — entre a intenção e a falha, entre o ideal e o real.
Talvez o que a gente precise pra mudar não seja um plano infalível, e sim mas uma forma mais honesta de lidar com o que somos, fazemos e mostramos.
Porque, no fim, o sublime não nasce da ausência de falhas — mas da coragem de continuar mesmo com elas.
O que emociona não é o controle absoluto, é o momento em que algo escapa.
A pausa. A falha. A fissura.
É ali que a gente se reconhece.
E, talvez, ali também comece o que pode ser belo.
Com carinho,
Lucas Morello
do Bota na Rua
tenho vivido nesses reconhecimentos...
Conteúdo sensível a condição humana : ) me inspirou muito a reflexão.