Até então parecia uma questão de escolha não trabalhar em projetos que não faziam sentido para mim.
Evolui na carreira rápido, boa parte dessa evolução (de cargo, salário e responsabilidade) veio junto com algumas concessões:
trabalhar em horários que meus amigos estavam livres;
me silenciar diante de pautas importantes para mim, porque estava incomodando muito;
notar contradições nos valores da empresa e nas práticas de marketing.
Com 21 anos eu aceitei as condições por duas razões:
Porque eu nem sabia que isso me faria mal.
Porque era uma carreira promissora e precisava de grana.
Dos 21 aos 27 acreditei que esforço gerava resultado, por isso, não parava 1 minuto.
O Lucas respondia todo mundo.
O Lucas deixava todas as notificações ligadas.
O Lucas se tornou um para-raios de problemas.
Na medida que entregava na data, o prazo da próxima entrega diminuía.
Na medida que entregava resultado, a meta dobrava.
Enquanto as coisas estavam funcionando, em nenhum momento me perguntavam: você está bem?
Enquanto dava certo para os outros, eu sofria com uma gastrite nervosa, respondendo em posição fetal mensagens urgentes.
Era uma dor aguda somada à fotofobia. Parecia que meu corpo pedia para eu desligar.
Não me entregava.
Colocava o óculos escuro, tomava analgésico para não deixar a peteca do trabalho cair.
E quem caiu fui eu.
Eu tinha tanto medo de perder o trabalho que me perdi no trabalho.
Vi esse ciclo se repetir algumas vezes.
Não havia mais referência de vida sem aquela intensidade de ansiedade.
Essa luta entre os avisos do meu corpo e o trabalho excessivo me levou para o limite.
Eu não recomendo esperar chegar lá.
Pensa comigo: a maior parte da nossa vida emancipada passamos trabalhando.
Não parece uma pauta relevante falarmos sobre relações mais saudáveis com a nossa produtividade?
Não é um paradoxo o trabalho te adoecer ao ponto de impedir você de trabalhar?
A função que te dá subsídio para a sua existência também pode roubar a sua produtividade.
A minha produtividade foi roubada por um sistema que não lida bem com a produção criativa.
[vídeo] Daniel Pink fala sobre um compilado de estudos sobre como a produtividade funciona
Cuidar de você é cuidar da sua produtividade. Como autônomo, é mais fácil ver alguns limites sendo excedidos, temos pouco parâmetro de felicidade no trabalho que não seja o resultado.
Muitas coisas inúteis precisam ser criadas antes de se tornarem úteis.
Cada ideia tem seu tempo.
Cada pessoa tem as suas condições de trabalho.
Que encontremos nas conversas difíceis um espaço para que cada um se sinta vivo no que faz.
Para que não falte vontade de viver o seu sonho no futuro.
Com carinho,
Lucas, não pude evitar um riso quando li: “para não deixar a peteca do trabalho cair. E quem caiu fui eu”. É aquele riso de canto de quem já passou por isso também. Parece que algumas coisas só aprendemos quando caímos, e o lado bom é que não voltaremos a cometer o mesmo erro (fica bem marcado!). Sobre a produtividade e produção criativa, esse é um assunto e tanto, não é? Por aqui, minhas melhores ideias vêm de maneira tão espontânea que é difícil ter algum controle. Educar a mente para produzir requer uma longa paciência!
Acho que mais difícil é encontrar a nossa própria forma de trabalhar. Sem nos medir pelo que "aprendemos" no estilo de trabalho que conheçemos. Produtividade parece ter um esteriótipo no nome: aquela pessoa que faz tudo o que se propõe a fazer. Longas listas, longas jornadas, longas abdicações de nós mesmo. Na sua visão, como seria um começo de como a gente pode tratar melhor a produtividade? Obrigado pela generosidade com essa news tão sincera e aconchegante de ler.